Recebi uma proposta irresistível! Ir para os Estados Unidos com tudo pago, visto, passagem, lugar para morar. A empresa ofereceu dois mil dólares para iniciarmos nossa jornada. Não poderia ser melhor!
Minha esposa acabara de me dar um lindo presente nossa filhinha Belinha, comemoraremos em grande estilo.
Confesso que um pouco antes do embarque fiquei meio inseguro, e acabei por chegar atrasado no aeroporto, onde amigos que fariam conosco essa viagem já estavam cogitando a minha desistência. Não! Tenho tudo planejado.
Ao chegarmos, fomos recepcionados por brasileiros, que nos fez respirar um pouco. Esqueci de dizer: Não falo inglês.
Fomos levados a um conjunto de casas, um para cada um de nós, muito bem organizada, dois quartos no andar de cima, e embaixo cozinha, sala e um banheiro social, não faltava absolutamente nada, a senhora do RH, proporcionou tudo desde talheres, roupa de cama, e alimentos, podemos dizer que foi um tratamento Cama, mesa e banho.
Na primeira semana, pedi a meus amigos que falavam inglês que me acompanhassem, ao RH, pois ainda faltava algo que nos havia sido prometido: Os Dois mil dólares!
A senhora, teve a pachorra de dizer que os dois mil dólares já haviam sido gastos com os moveis e utensílios para o apartamento. Mas eu não pedi que me fosse entregue um apartamento mobiliado, o trato era os dois mil dólares, meus amigos tentaram me convencer de que realmente havia mais de dois mil dólares no apartamento, mas trato é trato, eu queria meu dinheiro, que me colocassem em um hotel, mas me dessem meu dinheiro.
Duas semanas após nossa chegada recebemos nossos quinze dias de trabalho, fomos passear, gastar um pouquinho. Belinha precisa de dois autoramas, uma caixa maior que ela de Lego, minha esposa comprou tudo que viu nas lojas de roupa, eu preciso de alguns ternos, afinal no domingo iremos a igreja. Ual acho que preciso de um telescópio e quem sabe um dia eu aprenda a tocar musica, em tão melhor comprar um teclado.
Uma noite minha esposa ficou com minha filha no apartamento e fui conversar com meus amigos no apartamento ao lado. Bateram na porta e meu amigo foi atender, era minha esposa que muito educada e delicada, disse: Por favor meu esposo esta? O que lhe foi respondido que sim, e ela disse no mesmo tom, o apartamento está pegando fogo, saímos todos correndo, e o armário acima do fogão ardia em chamas, conseguimos apaga-lo e ela nos disse: -Fui trocar Belinha e esqueci de desligar o fogão. Não sei, mas tenho a impressão que meus amigos não ficaram muito satisfeitos com o comportamento de minha ingênua esposa.
No dia seguinte comprei um telefone fixo e resolvi testa-lo e liguei para o único número que eu conhecia 911 como eles atenderam, vi que o telefone realmente estava funcionando então desliguei. Em menos de cinco minutos, um carro policial parava enfrente meu apartamento e batia de forma contundente em minha porta, abri, e os policiais foram entrando sem nem mesmo eu os convidar, da porta de frente via-se a cozinha que na noite anterior havia pego fogo, os policiais nos interrogavam um tanto quanto agressivos, eu não entendia o que estava acontecendo, mas meus amigos vieram me acudir. Os policiais disseram que haviam recebido uma ligação e que ela tinha sido interrompida, e ao chegar viram a cozinha queimada, suspeitaram de agressão e maus tratos. Meus amigos explicaram que havia sido em engano e pela cara do oficial suponho que não gostou do ocorrido.
Encontrei um amigo brasileiro da igreja que eu frequentava no Brasil. Ele estava fazendo um intercambio e me disse que era bom comprar um celular, achei a ideia excelente, em seu carro fomos as várias lojas, em todas não encontrava exatamente o modelo que queria, três horas de muita estrada e paradas, cheguei a decisão que na verdade não precisa de um celular, já que já tinha um pré-pago. Espero que meu amigo não tenha perdido muito do seu tempo.
Já fazia dois meses que aqui estávamos. Este não era o meu lugar, bom eu sempre soube.
Continuei comprando e comprando tudo que via, afinal o dólar estava baixo e os preços eram simplesmente uma bagatela.
Fui até um grande supermercado da cidade e comprei uma caixa de papelão que tinha a dimensão de uma geladeira, fui estocando tudo nesta caixa, no mês seguinte, mais uma rodada de compras, precisa de mais uma caixa.
Uma tarde um de meus amigos encontrou-me sentado no banheiro da empresa chorando, precisava voltar para o Brasil, já estava cansado de gastar e sentia falta de minha família. O amigo preocupado uniu-se aos outros companheiros e fomos as RH, pedir demissão. A empresa deu-me a demissão e pagou nosso retorno ao nosso país aproveitei para pedir um carro emprestado para levar minhas malas e minha família para o aeroporto no dia marcado.
Assim na noite de meu embarque tirei as duas caixas de geladeiras que havia comprado, para ser levado ao Brasil. Não entendo ainda porque meus amigos ficaram com os olhos arregalados quando viram as minhas caixas e malas.
Disseram-me que a empresa havia mandado um carro sedã para levar-me ao aeroporto. Todos riram, sorte que um de meus amigos havia comprado um carro grande de cinco lugares, e fazendo muitas manobras conseguimos colocar as duas caixas em seu carro, e no sedã partimos.
No aeroporto, o funcionário, avisou que as caixas eram muito grandes e no poderiam ser embarcadas, estavam com 50 cm a mais que o permitido.
Desesperado, abri as duas caixas em pleno hall do aeroporto e fui retirando o que podia para chegar na medida permitida, entre escolher este ou aquele pertence indispensável, minha linda esposa pergunta: -Amor a Belinha já comeu, onde eu lavo o potinho, ele é tão bonitinho que quero levar? Explodi, estava deixando meu teclado, e ela querendo levar um potinho de comida para bebê? Tentando retomar a calma, continuei reconstruindo as caixas abertas e colocando tudo o que podia, até que ficasse no tamanho exigido, olhava para tudo que estava deixando para traz um aperto me possuía, engoli a tristeza quando meus amigos avisaram que já estavam chamando meu voo, o atendente mediu novamente a caixa, e mandou -nos para outro departamento, onde passaram um tecido antibomba, e não é que o medidor começou a apitar não acreditava teria que abrir tudo de novo, o atendente percebendo meu desespero, chamou o coordenador do departamento e novamente passaram o tecido, Ufa! dessa vez não apitou.
Terceira chamada para o voo, fui avisado que teria que pagar uma taxa extra pelo envio das caixas, meu amigo traduziu o valor para mim, enquanto que com os dedos apontava para os outros companheiros 400 dólares de taxa.
Embarquei, triste, porque no final o cobertorzinho surrado e querido que me tia havia me dado quando criança teve que ficar. Soube mais tarde, que meu cobertorzinho tinha virado isolamento do aquecedor de água da casa de meu amigo. Que ingrato, havia me prometido enviar por correio.
Walkiria Ank
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