Meu marido viajou três meses antes, para os Estados Unidos, fez um amoroso vídeo falando de sua saudade e do seu amor por nós. Olhos chorosos, corações acelerados e os dias já contados, virarão minutos intermináveis.
Cinco malas, duas lindas crianças, uma pré-adolescente de 12 anos, um lindo patinho feio, aparelhos nos dentes, óculos, e uma determinação que jamais conheci em nenhuma outra pessoa, o menorzinho, 5 anos, lindo, olhos redondos, grandes cílios que chamavam a atenção pela expressão de angelitude e timidez.
No aeroporto, a primeira viagem de avião, amigos e familiares transformaram aquela viagem numa grande caravana de turismo, era tanta gente, tanta risada, tanta comida, que não combinava com meu estado de espírito aflito e ansioso.
Chegamos ao Rio de Janeiro, embarcamos, e a primeira descoberta no avião era que cada acento ficava num ponto do avião. Me preparei muito para aquela viagem. Sim, sabia Please, Sorry, Yes, and my kids.
Sentei cada uma das crianças nos assentos marcados, e com coragem fui ao fundo do avião e travei uma conversa produtiva com a comissária de bordo.
Look my kids , look my kids, lágrimas, e lágrimas. O diálogo e as mímicas alucinadas me renderam três adolescentes me amaldiçoando, pois a comissária havia entendido perfeitamente que necessitava colocar aquela chorosa mãe junto a seus rebentos e separou as adolescentes amigas desde a primeira série e que faziam sua primeira viagem a Disney, em acentos distantes.
Passados os primeiros momentos de receio com a decolagem, que me portei muito bem, pois necessitava mostrar aos meus filhos que aquele barulho alucinado e a sensação que o estômago havia comido dois quilos de churrasco e a mal estar horrível, o barulho ensurdecedor iriam passar.
Tudo ou quase tudo transcorreu bem. Meu lindo filho quase no final da viagem vomitou em sua camisa nova, claro que era nova, não iria fazer a minha primeira viagem internacional, colocando qualquer camisa em meu filhote, o difícil foi dizer a comissária que poderia jogar fora a camisa, e foi aí que minha mocinha fez sua estreia na língua inglesa: —Please, put it in the trash. Que orgulho!
Assim chegamos ao maior aeroporto da América, eu parecia ter fumado três baseados tamanha eram minhas olheiras, meus meninos mais pareciam sofrer de tuberculose, não tinham cor e nem energia, tal cena sensibilizou uma funcionária espana que nos encaminhou para o início da fila.
Agora estava cara a cara com um enorme Policial Federal, que me pede: -Passport please, neste mesmo instante minha linda adolescente diz:
-Mãe!!! e vomita no maior salão acarpetado que meus olhos já haviam pousados. Perplexa e sem saber o que falar, o que fazer e para onde olhar, uma jovem policial federal, aproxima-se carinhosamente: -Don’t worry baby, that’s ok!, trazendo uma funcionária para limpar o enorme carpete, procurei não olhar para minha menina, sabia que de seus olhos grossas lágrimas escorriam, e novamente ouvi: -Passport please!! Oh meu Deus os passaportes, dedos esquerdos, dedos direitos, olho esquerdo, olho direito…
Depois de tantas informações ditas lentas e maquinalmente o policial diz: -Turn left, Turn right e down escalator and welcome United State, tão rápidos e treinados, que ao sair de lá não sabia para onde ir, seria pra direita primeiro ou a esquerda, estava perdia, segui o fluxo.
Muitas esteiras, muitos destinos e muitas horas depois…
Grudada nos filhos e procurando em algumas das esteiras as minhas malas. Foi que descobri que brasileiro só compra mala preta ou azul e todos colocam fitas verdes amarelas para identificá-la, eu fiz o mesmo!
Subi e desci com cinco malas e duas exaustas crianças, por todo o aeroporto, estava perdida, e a todos que perguntava onde era a saída de Atlanta, todos respondiam What? Como odiei essa palavra. No aeroporto de Atlanta seus funcionários falam outro dialeto, não dizem Atlanta diziam Atlena, e como eu ia saber, e o pior como eles não conseguiam me entender, estava na cara que eu era imigrante? E pela primeira vez depois de duas horas rodando pelo Aeroporto deixei que minhas lágrimas salpicassem minha face e rezei.
E um lindo anjo, não aqueles de cabelos encaracolados e de asas, mas um jovem senhor de terno colete e maleta tipo 007 apareceu em minha frente, e falando a língua dos anjos me encaminhou até as esteiras, para mais um despacho de malas depois até o trem e ainda perguntou se queria que ele me acompanhasse, respondi em inglês No, thank you, e sumiu assim como havia aparecido.
Só tive a certeza de que ele realmente era um anjo, quando desci e me vi no umbral, na frente a maior escada rolante do mundo tão alta, que não se via o fim apenas o teto, reuni as últimas forças que tinha e subi.
Ah! Eu estava no paraíso, meu marido de asas abertas, sorriso de orelha a orelha abraçou nos num abraço que parecia não ter mais fim, -Sim eu estava no Céu!
Autor: Walkiria Ank
Janeiro/2006
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Nosso designer arrasou com o desenho do texto What?
Me senti novamente em 2006, passando por todo aquele sufoco de novo. Mas faria tudo de novo, para estar aqui com minha família. Espero que tenham gostado da minha aventura?
Walkiria , eu ADOREI a sua estória!!! Eu ri bastante e tive até vontade de chorar , quando eu me coloquei no seu lugar.
Mas , como vc disse; tudo isto valeu a pena, pois vc aqui está seguindo com a sua vida , que foi orientada por Deus. E saiba que vc é muito importante para a nossa comunidade. A sua contribuição levando esclarecimentos pra tds nós , nos ajuda na caminhada para o nosso progresso espiritual. Graças à Deus que vcs conseguiram chegar!!😂😂
Não me canso de ler esse texto!
Sinto alegria, tristeza, aflição, enfim...um turbilhão de emoções e no final, acabo sempre sorrindo!
Que aventura hein minha amiga?
Adorei sua historia valente tenho muito orgulho de vc que fez essa viagem no escuro sem saber de nada 😇 e nós aqui sofrendo esperando notícias de sua chegada aos EUA . Qd recebemos a notícia chorei muito e agradeci a DEUS por tudo ter corrido bem e estavam junto à família nota 1000 . Amo vcs mais do que imajinam . Beijos da mãe , sogra e avó !
nossa vida e sempre de mudancas, se ficarmo parados o mundo nos atropela, e nao progredimos. olhar para frente e darmos o primeiro passo nos transforma. Podemos ate cometer erros. mas como saber se nao caminharmos.
se tivermos alguem especial ao nosso lado como minha esposa, a trajetoria se torna mais facil e alegre. Obrigado.