Чернобыльская молитва
‘Eu não escrevo a história dos fatos, mas a história das almas.’
É assim que a autora define esta magnífica obra. Um livro que sangra, mas um livro necessário a quem lembra ou a quer conhecer um pouco sobre o que foi o pior acidente nuclear da história. São relatos impressionantes, histórias sofridas, histórias de amor que emocionam, destruídas pelas radiações.
O livro, que desconcerta e instiga não constrói uma narrativa histórica no sentido de escrita historiográfica – a autora não utiliza a memória ou os testemunhos como “fonte” para o conhecimento e talvez nem mesmo busque “compreender” a catástrofe nuclear acontecida a 18km da fronteira com a Bielorrúsia (Belarús).
A profundidade inigualável desse livro está no sentimento humano, na pureza do olhar, o olhar que extravasa a tragédia: a omissão. O livro tem muita angústia, saudade e tristeza. Ninguém consegue parar e ficar indiferente. É uma obra pesada, que requer pausas frequentes para dar uma respirada e digerir os fatos narrados. Traz depoimentos de cientistas, soldados, operários e viúvas das vítimas do episódio. O número de mortos continua um mistério até hoje. Entender melhor o que houve sob o olhar e nas vozes de quem, de fato, vivenciou (e vivencia) os impactos de Tchernóbil é uma experiência diferente e transformadora para o leitor.
Svetlana consegue que pessoas como ela, que vivenciaram tal desastre, relembre e exteriorize memórias da época do desastre nuclear que ocorreu na extinta União Soviética.
A autora dá voz às pessoas com sonhos destruídos, consegue transformar os relatos em histórias inspiradoras e transformadoras. A estrutura do livro é interessante onde ela transforma os relatos em textos na primeira pessoa.
Ler esse livro é um exercício de empatia e, com certeza, quem se arriscar a lê-lo vai dar um passo a mais na construção de sua própria humanidade.
O DESASTRE:
Em abril de 1986 houve uma explosão na usina nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia — então parte da União Soviética — que provocou uma catástrofe sem precedentes: uma quantidade imensa de partículas radioativas foi lançada na atmosfera e a cidade de Pripyat teve que ser imediatamente evacuada. SEM PRECEDENTES, primeiro problema, ninguém sabia ao certo o que fazer – nem os funcionários da usina, nem os moradores ao entorno, nem os responsáveis (ou irresponsáveis) pelo desastre.
As pessoas que viviam em Tchernóbil naquele momento não foram avisadas e continuaram a viver ingenuamente sem conhecimento do perigo. Mais tarde quando se apercebem e lhes é revelado o que realmente está a acontecer têm que abandonar as suas casas juntamente com as suas famílias, sem pertences e os seus animais de estimação. Algumas pessoas recusam-se a ceder, preferem pôr à prova a própria vida.
Tão grave quanto o acidente foi a postura dos governantes soviéticos, que expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os reparos na usina. Pessoas comuns, que mantinham a fé no grande império comunista, pereciam após poucos dias de serviço.
SOBRE O AUTOR:
Svetlana Aleksandrovna Aleksiévitch, é uma escritora e jornalista bielorrussa. Foi galardoada com o Nobel de Literatura de 2015 “pela sua escrita polifônica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época”.
Possui uma escrita a meio caminho entre a literatura e o jornalismo, justapondo testemunhos individuais, com o que consegue aproximar-se mais à substância humana dos acontecimentos.
SEGREDINHOS DA AUTORA:
“O que me interessa é a história da alma. A vida cotidiana da alma. Aquilo que a grande história geralmente deixa de lado, que trata com desdém. Eu me ocupo com a história omitida.”
SEGREDINHOS DA OBRA:
Esta obra serviu de inspiração para a série Chernobyl.
SOBRE A OBRA
título: VOZES DE TCHERNÓBIL: a história oral do desastre nuclear
autor: Svetlana Aleksiévitch
editora: Companhia das Letras
páginas: 316
ano de edição: 2016
Blog Comments
Walkiria
14 de maio de 2020 at 16:40
Um história que não pode ser esquecida !
Jeferson Teles Ank
29 de maio de 2020 at 13:00
O seu humano pode ser incrivel nos dois sentidos. podemos curar as doencas e tambem cria-las.